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JOVEM APRENDIZ VOCAÇÃO: COMO ESTE PROGRAMA APOIA O COMBATE À DESIGUALDADE SOCIAL

30 de abril de 2021 - Wanessa Medeiros

O Dia do Trabalho é momento de refletir sobre a importância do Programa Jovem Aprendiz na vida de adolescentes (a partir de 14 anos) e jovens em situação de vulnerabilidade que necessitam trabalhar para colaborar com o orçamento familiar.

Há cinco anos, a Vocação tem qualificado adolescentes e jovens e os aproximado de empresas parcerias que entendem que o Programa Jovem Aprendiz é uma forma de dar a oportunidade do primeiro emprego para pessoas que precisam trabalhar desde cedo sem ter que deixar de lado a educação formal, fundamental para quebrar o ciclo de pobreza familiar em que estão inseridas.

O Programa Jovem Aprendiz, respaldado pela Lei da Aprendizagem Nº 10.097/2000, é um modo de enfrentar o grave problema da desigualdade social. Para poder trabalhar como aprendiz, adolescentes e jovens do programa precisam estar estudando. A jornada de trabalho do aprendiz é reduzida para garantir que eles possam continuar seus estudos formais. Essa dinâmica torna o Jovem Aprendiz uma importante ferramenta para evitar a evasão escolar, muito comum em grupos que vivem em situação de vulnerabilidade e/ou risco e que, por falta de opção, acabam em subempregos, sem qualquer garantia de direito ou segurança, em uma jornada de trabalho que é incompatível com os estudos.

De acordo com dados da PNAD (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) Contínua de 2019, divulgados em julho do ano passado pelo IBGE, mais de dez milhões de jovens entre 14 e 29 anos não completaram alguma etapa da educação básica, seja por abandono escolar, seja por nunca terem tido acesso a ela. Isso representa 20,2% das 50 milhões de pessoas que estão nessa faixa etária. Desse total, 71,7% eram pretos ou pardos.

A taxa de abandono escolar aumenta, com frequência, na fase de transição do Ensino Fundamental para o Ensino Médio: aos 14 anos, 8,1% estão fora da escola; aos 15 anos, essa taxa sobe para 14,1%; e a partir de 16 anos até 19 ou mais, chega a 18%.

Entre os motivos do abandono escolar, a necessidade de trabalhar ocupa a primeira posição, com 39,1%. Em seguida, aparece a falta de interesse; 29,2%.

Mesmo com a obrigatoriedade da contratação de aprendizes prevista em lei (empresas de médias e grandes porte são obrigadas a contratar um número de aprendizes equivalente a, no mínimo, 5% e, no máximo, 15% de seus funcionários), conquistar o primeiro emprego tem se mostrado, cada vez mais, um desafio para adolescentes e jovens que vivem em comunidades. Além da escassez de postos de trabalhos – que tem aumentado no Brasil como resultado da crise econômica agravada pela pandemia – grande parte enfrenta desafios que se sobrepõem à falta de experiência profissional.

Entre eles, questões raciais, de gênero, de CEP (muitas pessoas têm receio de dar o endereço certo da comunidade em que vivem porque costumam ser discriminados) e mais uma série de obstáculos que acabam tornando o primeiro emprego uma possibilidade cada vez mais remota.

“O propósito da inclusão através do programa de socioaprendizagem vai muito além do cumprimento da cota. É preciso uma maior ação social para a promoção de políticas públicas e apoio da sociedade civil. Isso envolve diversas áreas da sociedade, como a educação, cultura, cidadania e empregabilidade. Por isso, esforços coletivos e individuais que visam romper preconceitos e ações coercitivas são necessários para gerarmos oportunidades mais justas e igualitárias”, afirma Marcela Toledo, coordenadora de inclusão produtiva e empregabilidade da Vocação.

 

HISTÓRIAS DE APRENDIZES DA VOCAÇÃO

Reunimos algumas histórias de jovens do Programa Aprendiz Vocação:

 Mesmo com a obrigatoriedade da contratação de aprendizes prevista em lei (empresas de médias e grandes porte são obrigadas a contratar um número de aprendizes equivalente a, no mínimo, 5% e, no máximo, 15% de seus funcionários), conquistar o primeiro emprego tem se mostrado, cada vez mais, um desafio para adolescentes e jovens que vivem em comunidades. Além da escassez de postos de trabalhos – que tem aumentado no Brasil como resultado da crise econômica agravada pela pandemia –, grande parte enfrenta desafios que se sobrepõem à falta de experiência profissional.

Entre eles, questões raciais, de gênero, de CEP (muitas pessoas têm receio de dar o endereço certo da comunidade em que vivem porque costumam ser discriminados) e mais uma série de obstáculos que acabam tornando o primeiro emprego uma possibilidade remota.

Abaixo, reunimos algumas histórias de jovens do Programa Aprendiz Vocação que conseguiram conquistar o primeiro emprego e contam suas experiências:

 

Nicolas Pires de Oliveira, 19 anos, se assumiu como trans por volta dos 16 anos. O momento coincidiu com a procura de emprego, mas a possibilidade de atingir sua meta parecia ficar cada vez mais longe. “Quando conseguia uma entrevista de emprego, surgiam questões relacionadas ao fato de ser trans. Perguntas do tipo: ‘se vier a trabalhar aqui, qual o banheiro pretende usar: masculino ou feminino?’. E aí eu já sabia que não ficaria com o emprego”, explica. Há cerca de dois meses, Nicolas teve uma surpresa ao ser selecionado pela Arezzo para uma vaga no RH. “Já na entrevista me senti acolhido”, afirma.

A conquista do primeiro emprego veio na hora certa para Nicolas. O pai, com quem mora, está desempregado e a pensão que recebe da mãe é usada para pagar as mensalidades da faculdade de Psicologia. Com a vaga, veio o treinamento do Programa Jovem Aprendiz Vocação. “A gente não tem experiência alguma quando é jovem e se pega um trabalho comum e não souber fazer as coisas em um ou dois meses, é mandada embora. Mas como aprendiz, meu contrato é de onze meses e nesse tempo eu vou aprendendo na prática com meus chefes e na teoria com o curso da Vocação. Então, essa é uma oportunidade que se abriu na minha vida e que não pretendo deixar escapar”, conta Nicolas. “Eu estou adorando trabalhar na empresa e quero entender qual o caminho para, ao final do contrato de aprendiz, eu ser efetivado. Seria perfeito: formado em psicologia e trabalhando no RH”.

 

Para Neysa Iveth Limachi Saire, 18 anos, o Programa Jovem Aprendiz Vocação também está abrindo portas. Os pais vieram da Bolívia para o Brasil em busca de uma vida melhor. O pai ficou por aqui durante uns meses, mas retornou à Bolívia deixando Neysa, então com 4 anos, e a mãe à própria sorte. A mãe foi trabalhar como costureira em condições análogas à escravidão. As duas moravam em uma espécie de ferro-velho, os patrões não permitiam que os “funcionários” saíssem do local em que estavam hospedados e trabalhando e as jornadas de trabalho eram pesadas, das 6h às 22h. A mãe de Neysa conseguiu ajuda de outras pessoas para que ela e a filha escapassem daquela situação. Durante a infância, na escola, Neysa era vítima constante de preconceito. “Muitos colegas diziam que eu não era brasileira e que não tinha o direito de estar ali, além de outras coisas bem desagradáveis que me deixavam insegura”.

Atualmente, a mãe, que trabalha como autônoma, estava com dificuldade de pagar as contas da casa e a faculdade de Neysa – ela estuda Gestão de Marketing. “Com isso, fiquei devendo à faculdade e precisei trancar meu curso”, explica. As coisas começaram a melhorar quando conseguiu um emprego como aprendiz na Lockton, consultoria e corretora de seguros, para atuar no departamento de gerenciamento de operações. “Na Vocação, aprendi e tenho aprendido bastante. Desde a trabalhar em Excel, Power Point e outras ferramentas até sobre leis trabalhistas. Antes de começar na empresa estava insegura e achava que não daria conta. Mas vejo que, em quase dois meses, evoluí muito e já estão me passando mais funções. Nunca imaginei que iria gostar tanto de um trabalho quanto estou gostando desse”, diz.

Fora isso, Neysa comemora que, com o salário que está recebendo, está conseguindo pagar as contas da faculdade e vai voltar ao curso no segundo semestre deste ano. “Além disso, estou muito feliz por poder colaborar com a casa. Logo que recebi meu primeiro salário fiz umas compras de alimento e ainda pude ajudar a tia de um amigo meu que estava sem condições de comprar comida. Estou me tornando uma pessoa melhor, mais madura. E agora eu sei o que eu quero: estudar e construir uma carreira que possa me dar um futuro melhor”.

 

Sarah Alves Dias, 20 anos, sabe bem a diferença entre ter um emprego de aprendiz, protegido por lei, e estar em trabalhos fora do Programa Aprendiz. Ela conta que começou aos 14 anos distribuindo panfleto, depois foi atendente de telemarketing. “O Programa é uma oportunidade para jovens de baixa renda porque realmente muda a vida das pessoas. A gente não tem as mesmas chances que um jovem de classe média que tem acesso às boas escolas e a intercâmbio para aprender um idioma. Mas como aprendiz, a gente pode avançar nos estudos enquanto tem uma renda extra para ajudar a família e não ficar tão dependente dos pais”, explica ela, que sempre quis um emprego na área financeira por acreditar que havia mais vagas favoráveis para jovens de baixa renda. Em 2019, Sarah entrou como aprendiz no judiciário da Stone, fintech brasileira de meios de pagamentos, e, simultaneamente, iniciou o Programa Jovem Aprendiz Vocação.

Logo, soube que uma faculdade parceira da Vocação estava oferecendo cinco bolsas de estudos integrais nas áreas de Pedagogia, Sociologia e Serviço Social. “Fiquei chateada que não havia bolsa para o curso de Ciências Econômicas, que era o que mais desejava. Aí, enviei um e-mail para a Vocação para saber se não havia como a faculdade conceder bolsa no curso que eu queria. Deu certo: recebi uma bolsa de 100% e, em 2020, iniciei o curso”. Com isso, passou a atuar na tesouraria da Stone e, em dezembro de 2020, se tornou estagiária da empresa. “Meu salário melhorou bastante, o que foi ótimo, claro. Meus pais são separados e moro com minha mãe, que estava desempregada até pouco tempo. Então, pude colaborar pagando as compras de alimentos”, conta. Apesar de adorar o trabalho na Stone, Sarah decidiu mudar de emprego: acaba de ser recrutada para uma vaga de estagiária no Banco Pan e aceitou por achar que o trabalho está mais próximo da sua formação na faculdade e por enxergar novas possibilidades para seu crescimento profissional.

“As pessoas não entendem que nós, jovens da classe baixa, adoraríamos apenas estudar. Mas, por necessidade, precisamos trabalhar e estudar ao mesmo tempo. E é por isso que o Programa Jovem Aprendiz é tão importante: ele nos oferece a possibilidade trabalhar dentro de uma jornada em que é possível encaixar os estudos. Isso nos dá a possibilidade um futuro melhor”, diz Sarah. E ela já faz planos para seu próximo voo. “Quero morar fora do país, nos EUA ou Europa, e agora acredito que esse meu desejo pode se realizar. Seja por meio de trabalho em uma empresa que tenha filial no exterior, seja para fazer um MBA. Se não fosse pelo Programa Jovem Aprendiz, jamais poderia pensar em algo assim”.